Tenho lido muito ultimamente. E escrito também. Certa vez – li – algo que me deixou terminantemente irritada com quem havia escrito aquilo, dizia que pessoas que liam muito, tinham o costume, porque queriam fugir da realidade. Aquilo me indignou. Mas agora, eu acho que concordo com ela. Acho que porque tenho feito muito disso mesmo, de querer fugir sabe? E se me permite opinar e dar um conselho eu digo: faça isso também.
Não é que eu seja covarde ao ponto de não aguentar a realidade em que vivo, talvez eu seja um pouco, mas isso é problema meu e não é o real motivo que me faz ler. É engraçado que esse mundo de hoje é tão virado de cabeça pra baixo que até por ler você é julgado. Existe coisa mais ridicula que preconceito com livros? Não consigo acreditar, mas sei que provavelmente há. Esse mundo é podre.
E é exatamente por isso que eu leio. Porque, muitas vezes os livros, na verdade na maioria delas, contam histórias nada compativeis com a realidade e é por isso que eu gosto. Não pode ser real, não é real, não existem pessoas ‘personagens-de-livros’ mas eu gosto de saber que assim como eu, existe muita gente que gostaria que existisse.
Gosto de um livro quando me identifico com ele, quando ele corresponde ao que eu espero das pessoas. Automaticamente, me identifico com quem o escreveu. Não acho possivel que o livro não tenha, ao menos um traço, por menor que seja, de quem o fez. A gente costuma colocar no que faz, muito mais da gente do que a gente gostaria de por. Falo por experiencia própria.
Gostaria de poder conversar com todos os autores que já me fizeram chorar, rir, suspirar, amar, odiar (e etc) tantas vezes e dizer a eles o meu obrigada. Dizer que gostei muito do que fizeram por mim. Talvez eles não saibam, talvez não, eles realmente não sabem, mas fizeram muito mais por mim, que muita gente que me disse “conta-comigo-pro-que-precisar”
Deixar de lado meus problemas e entrar dentro do livro. Gosto dessa sensação de querer entrar no livro e passar a ‘viver’ os personagens, me sinto mais humana. Sinto compaixão, amo com eles, sofro com eles. Livros tornam pessoas mais humanas. Quantas pessoas se importariam com sua história de forma tão intensa e presente como um leitor se importa com a do personagem? Dói pensar nisso né? Eu sei. Como sei.
Sabe, eu teria capacidade suficiente para ferrar com a vida de todo e qualquer personagem que eu crio quando escrevo. Tenho criatividade suficiente pra isso, e absorvo todos os dias experiencias que me fariam ter sucesso ao tentar, afinal a vida não é fácil, e não tem final feliz, mas não quero. Se em algum lugar eu ainda posso fazer as coisas darem certo, porque eu faria o contrario?
Gabriela Ermel